Venice

“In Italy, the dogs say bow-bow instead of bow-wow, and my Italian teacher, Signora Marra, is not quite sure why this should be. When we tell her that here in America the roosters say cock-a-doodle-do, she throws back her head like a hen drinking raindrops and laughs uncontrollably, as if we were fools to believe what our native red rooster says, or ignoramuses not to know that Italian roosters scratch and preen and clear their gullets before reciting Dante in the sun.

In Venice there is a conspicuous absence of dogs and roosters, but all the pigeons on the planet seem to roost there, and their conversations are deafening. When the city finally sinks, only a thick dark cloud of birds will be left to undulate over the ocean, birds kept alive by pure nostalgia and a longing to land. And circulating among them will be stories, reminiscences, anecdotes of all kinds to help pass the interminable days. Even when this voluble cloud dissipates, the old exhausted birds drowning in the sea, the young bereft birds flying away, the sublime and untranslatable tale of the City of Canals will echo off the oily water, the walls of vapor, the nimbus clouds.

There were so many birds in front of Café Florian’s, and mosquitoes sang a piercing song as I drank my glass of red wine. Waving them away, I inadvertently beckoned Sandro, a total stranger. With great determination, anxious to know me, he bounded around tables of tourists.

The Piazza San Marco holds many noises within its light-bathed walls, sounds that clash, are superimposed or densely layered like torte. Within that cacophony of words and violins, Sandro and I struggled to communicate. Something unspoken suffered between us. We were, I think, instantly in love, and when he offered me, with his hard brown arms, a blown glass ashtray shaped like a gondola, all I could say, all I could recall of Signora Marra’s incanting and chanting (she believed in saturating students in rhyme), was “No capiche.” I tried to inflect into that phrase every modulation of meaning, the way different tonalities of light had changed the meaning of that city.

But suddenly this adventure is over. Everything I have told you is a lie. Almost everything. There is no lithe and handsome Sandro. I’ve never learned Italian or been to Venice. Signora Marra is a feisty fiction. But lies are filled with modulations of untranslatable truth, and early this morning when I awoke, birds were restless in the olive trees. Dogs tramped through the grass and growled. The local rooster crowed fluently. The Chianti sun was coming up, intoxicating, and I was so moved by the strange, abstract trajectories of sound that I wanted to take your with me somewhere, somewhere old and beautiful, and I honestly wanted to offer you something, something like the prospect of sudden love, or color postcards of chaotic piazzas, and I wanted you to listen to me as if you were hearing a rare recording by Enrico Caruso. All I had was the glass of language to blow into a souvenir.”

Bernard Cooper (Maps to anywhere)

 

As origens do safatlianismo

Ontem, Hannah Arendt fez aniversário. Antes de ontem, Vladimir Safatle estragou a festa de aniversário de Hannah Arendt com um texto (Folha de S. Paulo, 13/10/17) em que perfila um desvirtuamento completo do pensamento arendtiano e um rosário de conclusões fáceis para questões tão complexas quanto a liberdade de expressão e de associação. Antes, façamos uma breve digressão para situarmos cronologicamente o debate.

Na década de 50, nos EUA, vigia um conjunto de leis segregacionistas, apelidadas de Jim Crow laws. Um dos tantos problemas causados por elas era a segregação escolar: crianças negras e brancas estudavam em locais separados. Em 1954, por ocasião do julgamento do caso Brown v. Board of Education, a Suprema Corte americana tentou mudar isso ao declarar inconstitucional toda a legislação que segregasse estudantes. Daí que, em 1957, a National Association for the Advancement of Colored People* tenha feito a matrícula de nove estudantes negros em uma escola de Little Rock, antes reservada exclusivamente a crianças brancas.

À época, o Arkansas, onde fica a cidade de Little Rock, era um dos estados mais racistas dos Estados Unidos. As nove crianças foram recebidas com xingamentos, bloqueios foram feitos pela cidade e o presidente Eisenhower precisou enviar tropas federais ao local para garantir o direito dos novos estudantes de entrarem na escola. Esse é um dos cernes da discussão proposta por Hannah Arendt em seu texto  Reflections on Little Rock, escrito em 1959: expor crianças em tenra idade a um ambiente hostil é o método mais adequado para dar cabo à segregação racial? A resposta pode ser encontrada no livro Warriors don’t cry, de Melba Pattillo Beals, uma das selecionadas para estudar na Little Rock Central High. No livro, Melba descreve todo o tipo de tratamento ignominioso recebido pelos colegas de classe, além da exposição de sua vida à opinião pública.

Em seu texto, Hannah Arendt anotou o seguinte: a obrigação do governo está em impedir o trânsito da discriminação do âmbito social para o âmbito político. Ou seja, há uma esfera política, em que as pessoas têm os mesmos direitos e deveres, o que também pode ser chamado de igualdade formal; e há a esfera social, em que cada pessoa carrega o seu conjunto de vivências, crenças, preferências, virtudes e defeitos, a igualdade material. Ignorar fato tão elementar e encarar a sociedade como massa amorfa e vazia de diferenças em nada contribui para os enlaces sociais. Pelo contrário: é marca do totalitarismo.

Vladimir Safatle, no entanto, não entendeu assim. No artigo, ele acusa os liberais, dos quais Arendt seria partidária, de estimularem o preconceito sob a justificativa de um suposto “direito à discriminação”. Sendo assim, faço questão aqui de destacar o que disse Hannah Arendt: While the government has no right to interfere with the prejudices and discriminatory practices of society, it has not only the right but the duty to make sure that these practices are not legally enforced. Ou seja, Arendt disse o exato oposto do que afirmou Safatle. A pensadora alemã jamais defendeu qualquer tipo de direito à discriminação e, além disso, disse que é dever das autoridades certificarem-se de que nenhuma dessas práticas sejam estimuladas na esfera política.

Mas ele não parou por aí.

Safatle sugere que haja um controle do preconceito. Escreve ele: “dizer que a discriminação é legítima na esfera social, compreender o exercício do preconceito como um “direito”, e não como uma patologia social a ser combatida, é o resultado da tese equivocada de que a liberdade baseia-se na possibilidade de afirmação individual de interesses e escolhas.”. Pois bem. As perguntas que surgem deste raciocínio não podem ser outras: quem definirá o que é preconceito, quem dirá o que pode ou não ser dito e feito? Ainda assim, Safatle arremata: “Nesse sentido, é sim necessário intervir, em todos os níveis, sobre práticas sociais que minam a adesão a princípios igualitários, sob pena de ver os preconceitos recrudescerem e contagiarem campos cada vez mais alargados da vida social.”. O discurso parece sedutor, mas há aí um ovo da serpente.

A classificação de preconceito como patologia é o último bastião da mente autoritária, porque a ninguém pode ser dado o beneplácito de definir quais e tais expressões são reprováveis. A eleição dos inimigos em um  regime totalitário não tem outro fundo senão um programa de governo. Nesse particular, quero chamar a atenção para o que diz Arendt em seu “As origens do totalitarismo” a respeito da polícia secreta e da reclassificação dos suspeitos em inimigos objetivos. O indivíduo a ser combatido “nunca é aquele cujos pensamentos perigosos tenham de ser provocados, ou cujo passado justifique suspeita, mas é um ‘portador de tendências’, como o portador de uma doença”. Parece anedota, mas é o que sugere Safatle em seu texto. Vocês, preconceituosos, são a doença. Tentem imaginar de onde sairá a cura.

Infelizmente, Vladimir Safatle não leu Hannah Arendt. Se leu, não entendeu. Se entendeu, falsificou a interpretação. E em nenhuma dessas hipóteses há algo menos nocivo para o debate. Há quem se apaixone pelas próprias idéias, a ponto de perder a vida. Há quem faça a vida sem tanto amor pelas idéias, porque rasas. Safatle perde a vida por idéias rasas.

*Embora, hoje, o termo “colored people” seja considerado altamente ofensivo, expressão foi mantida no nome da Associação, cujo trabalho em prol dos direitos civis continua a ser feito ininterruptamente desde 1907.

joeira

-Eu estava perdida no meio do matagal. Quer dizer… parecia mais uma floresta. E começou assim mesmo: perdida no meio da floresta. Dizem que os sonhos são sempre do mesmo jeito, a gente não sabe onde começam ou terminam. Os meus sempre são assim e eu me esqueço de todos quando acordo. Mas nesse foi diferente. Eu andava e vi um bicho morto. Acho que era um boi ou uma vaca. Por precaução eu só olhei de longe. Vai que estivesse só descansando, né?  Se bem que um boi não deitaria naquela posição e o bicho nem se mexia, nem pra se coçar, ainda mais com aquela chuva toda. Caminhei mais um tanto e vi outros, muitos outros. Estavam todos mortos.  Perto deles um tigre, caído de lado, imóvel. Acho que um temporal havia acabado de desabar , a terra estava pantanosa, o dorso dos bichos estava encharcado. Eles morreram todos com a mandíbula aberta, com a aparência arquejante, sabe? Eu logo percebi que os bois foram atacados de surpresa e tentaram correr. Nenhum deles tinha marca de violência. Logo ao lado, vi uma árvore estraçalhada, possivelmente atingida por um raio durante a tempestade. Deduzi, então, que aquela fosse a causa da morte de todos aqueles animais. Aproximei-me do tigre e uma labareda emergiu desde as costelas do bicho. O fogo era branco e não lhe queimava o pelo, nem a chuva podia apagá-lo. Eu lembro que não senti medo algum enquanto estive lá, exceto por uma coisa.

-O que houve?

-Enquanto eu assistia o fogo, o tigre abriu os olhos.

-E então?

-Aí eu acordei.

Antifragile

Nassim Taleb é um dos principais aforistas da atualidade. Eis um excerto do excelente “Antifragile”.

“The biologist and intellectual E. O. Wilson was once asked what represented the most hindrance to the development of children; his answer was the soccer mom. He did not use the notion of the Procrustean bed, but he outlined it perfectly. His argument is that they repress children’s natural biophilia, their love of living things. But the problem is more general; soccer moms try to eliminate the trial and error, the antifragility, from children’s lives, move them away from the ecological and transform them into nerds working on preexisting (soccer-mom-compatible) maps of reality. Good students, but nerds–that is, they are like computers except slower. Further, they are now totally untrained to handle ambiguity. As a child of civil war, I disbelieve in structured learning . . . . Provided we have the right type of rigor, we need randomness, mess, adventures, uncertainty, self-discovery, near-traumatic episodes, all those things that make life worth living, compared to the structured, fake, and ineffective life of an empty-suit CEO with a preset schedule and an alarm clock.”

Nassim Nicholas Taleb. Antifragile: things that gain from disorder.

Bosch, Dante e Dalí em diante

Em seu excelente O Mundo como vontade e representação Schopenhauer define talento como a capacidade de acertar um alvo que nenhum outro acertaria. Já genialidade seria acertar um alvo que nenhum outro pode enxergar. O talentoso satisfaz o espírito de um tempo e avança além da capacidade de seus pares; gênios, por sua vez, concebem e superam os próprios limites de aprendizado.

Pouca gente fazia idéia de quem era Hieronymus Bosch quando ele morreu, há exatos quinhentos anos. Lógica não é expressão primeva quando nos deparamos com as pinturas do artista flamengo, formada majoritariamente por trípticos preenchidos com o céu, o inferno e o juízo final, além de remissões ao mundo sonial. Embora hoje continue ignorado por boa parte das pessoas – mesmo aquelas que têm certo interesse pela arte – e não tenha alcançado a popularidade de outros pares europeus, Bosch certamente quebrou paradigmas na cultura ocidental.

A preocupação com o destino das almas é antiga em todas as culturas, em especial na cristã. Uma obra, menos conhecida, mas não menos relevante, A Visão de Túndalo é o retrato de uma história ainda mais antiga, escrita no século XII por um desconhecido monge irlandês sobre o cavaleiro Túndalo, um pecador terreno que, ao morrer, é conduzido ao Além por anjos e inicia sua jornada pelo inferno, purgatório e paraíso.

Aos mais atentos, o enredo nos remete a outra narrativa. Na Divina Comédia, Dante Aleghieri construiu o simbolismo religioso das seguintes gerações, sobrevivendo à Idade Média, cortando a Idade Moderna e ainda viva e latente na era contemporânea. Dante, por certo, não teve soprada ao ouvido a sua saga pelas vísceras da Terra. Tampouco teve qualquer visão que se lhe permitisse conceber o maior poema do mundo ocidental. Seu ponto de partida foram as visões de um cavaleiro, duzentos anos antes da Comédia. Tal qual o óleo sobre tela de Bosch.

Mais recentemente, no século XX, despontou nas artes plásticas um movimento denominado surrealismo, cujo personagem indispensável é Salvador Dalí. Hoje, sabe-se que a obra de Bosch influenciou não só o espanhol do bigode engraçado, mas os traços de uma geração. Na década de 50, Dalí foi convidado pelo governo italiano para produzir uma série de aquarelas por ocasião do aniversário de setecentos anos da Divida Comédia de Dante, completando, assim, o círculo de confluências entre literatura e arte, entre Dalí, Bosch, Dante e algum monge anônimo.

A arte nos mostra que essa compreensão da realidade pode se dar pela influência de outros gênios. Sua clarividência não é formada sem alicerces. A genialidade não está apenas na construção, mas na busca correta pelos elementos que permitam a gênese de uma obra atemporal.

.alguns aforismos sobre lingüística e cinema.

A linguagem escrita é um dos tantos ápices da abstração a que chegou a civilização, tendo como pares o dinheiro, as empresas, a justiça, os países e as igrejas. Como já ensinou Steven Pinker no excelente ”The Sense of Style”, a escrita é um ato inatural, oposto à língua falada, inata às crianças, permitindo-lhes dialogar anos antes de entrarem na escola. Darwin já havia anotado isso em Descent of man, ao afirmar: “man has an instinctive tendency to speak, as we see in the babble of your young children, whereas no child has na instinctive tendency to bake, brew or write”.

Isso faz de A Chegada um filme que vale a pena ser assistido. Ao contrário do que se propagandeia, A Chegada não é um filme de ficção científica. É um filme sobre o encontro de um com outro, ou de um todo com outro todo, e a percepção subjetiva de como é ser o outro. É sobre o problema da comunicação, dentre nós desde sempre. É uma aula de lingüística.

A estrutura idiomática demanda profusas escolhas. Em contextos sociais e históricos os povos determinam a relação entre a abstração de um termo e sua face sensorial ou material. A cadeira é cadeira por assim se ter convencionado chamar aquele objeto de tal modo. A saudade é saudade no coração dos lusófonos e ninguém mais. Isso nos traz ao velho e recorrente problema desta palavra, presente em todas as listas de palavras intraduzíveis. Quero tratar dela antes de voltar ao filme.

Em sete letras explicamos um sentimento que demanda dez palavras ou mais em outro idioma. Os ingleses já tentaram explicar saudade como “um sentimento nostálgico, quando se sente falta de algo, alguém ou alguma época da vida”. Os anglófonos podem lançar mão de to miss, homesickness ou catch up on. Mas a gente sabe que saudade não é apenas nostalgia ou sentir falta. Sempre tem uma coisa emocional potencializada por consumo de caipirinha que impede a tradução, mas não impede que a gente entenda o que sente.

É evidente que os outros povos também sentem saudade, embora, para eles, isso possa ser só nostalgia, ou ausência de algo, alguém, ou, ainda, seja o conjunto de uma série de expressões correlatas, usadas cada qual na situação em que melhor se inserem. Dito de outro modo: traduzir é essa tarefa ingrata de, além de tentar achar equivalentes em outro sistema de comunicação, escolher aquele que melhor se enquadra culturalmente àquele povo em relação àquela expressão ou palavra. Traduzir é trair. Os idiomas não têm relações biunívocas. Mas fujo do assunto.

A Chegada nos coloca defronte a uma hipótese interessante acerca do relativismo lingüístico (Sapir-Whorf), embora um tantinho desgastada entre os lingüistas: o modo de pensar de um povo é definido pelo idioma que esse povo fala? Alguns dizem que só se filosofa de verdade em alemão. Eu não ousaria duvidar das capacidades cognitivas do idioma de Schopenhauer, Marx, Habermas, Arendt, Engels, Heidegger, Nietzsche, Leibniz, Kant, Voegelin e infinitos outros; não concordo, no entanto, com determinismo lingüístico. Mas acho que alguns idiomas podem sim facilitar a expressão de idéias, dependendo sempre das habilidades do interlocutor.

E pela dificuldade natural dada à escrita, o desafio da tradutora Dra. Banks em A Chegada é hercúleo. As pessoas que a contratam basicamente querem que ela transcreva em alienigenês a seguinte frase: “qual ‘é o propósito de vocês na Terra?”. A abordagem da professora pareceu-me adequada. Diz ela que antes de tentar traduzir ou comunicar, é necessário entender se os receptores da mensagem sabem o que é uma pergunta, se têm a noção de coletivo (vocês) e se mesmo há noção do que é ter um propósito ou finalidade. Em suma, se têm consciência acerca de uma vontade. Isso é bem ilustrado quando a tradutora segura um pequeno quadro com a inscrição human e aponta para si, para tentar explicar aos visitantes o que ela é.

A essa altura, foi interessante rememorar o célebre texto How is it to be like a bat? do filósofo Thomas Nagel, cuja discussão permeia a subjetividade na natureza da consciência. Nagel ilustra a questão ao comparar o ser morcego com o ser humano e demonstra que, ainda que a um humano fosse possível vivenciar a rotina de um morcego, seria inviável saber como de fato é a mentalidade do animal, vez que os aparatos neurais de ambos diferem desde o nascimento. Ou seja, cada ser, ainda que sesciente ou consciente, só sabe como é ser o que ele mesmo é.

No filme, a não-linearidade é a base da língua escrita dos alienígenas, o que formata sua forma de ver a realidade. Os círculos surgem em bela simbologia de como é aquela civilização. Estampam a infinitude do tempo e a irrelevância dos conceitos de passado e futuro. O contato, quando for feito, será exatamente isso para a humanidade: reescrita de tudo aquilo que foi visto, pensado e construído. Nossa história mudará, tornar-se-á quiçá sem nexo – não que haja muito agora.

Embora nossa tendência escrita seja a de sempre tentar parecer mais inteligente do que somos – ou, ao menos, mais inteligentes que os nossos leitores -, a professora Banks precisa lançar mão de uma linguagem simplória para tentar contato com seres notadamente superiores no que diz respeito à tecnologia. Ou seja, quando se depara com uma cultura desconhecida, a primeira reação humana é simplificar suas palavras e frases, embora, na vida normal, o que fazemos é inverter a sintaxe, eleger sujeitos indeterminados e pinçar vocábulos que caíram em desuso há algumas décadas.

Assim, o criativo Denis Villeneuve, para mim o diretor mais talentoso da nova geração – nos entrega a alegoria dos heptópodes para dizer o seguinte: a estrutura de uma língua demanda escolhas, conscientes ou não, e a vivência em civilização demanda escolhas, conscientes ou não. Ambas estão inseridas na etimologia ou na história e podem ser desconstruídas com possíveis choques civilizacionais.

Em suma: ser claro e objetivo é uma arte que poucos dominam.

Santa Joana

“Aos dezoito anos, as pretensões de Joana eram maiores que as do Papa mais orgulhoso, ou do mais arrogante dos imperadores. Reivindicou para si as atribuições de embaixatriz e plenipotenciária de Deus e quis ser, na realidade, membro da Igreja Triunfante quando ainda vivia na carne terrena. Colocou sob sua proteção o rei da França e intimou o da Inglaterra a se arrepender e a prestar obediência às suas ordens. Repreendeu, reduziu ao silêncio e dominou homens de Estado e prelados. Desprezou os planos dos generais, conduzindo tropas à vitória com suas próprias manobras. Era ilimitado e manifesto seu menosprezo à opinião, julgamento e autoridades oficiais, bem como à tática e estratégia do Ministério da Guerra. Tivera sido Joana um sábio e um monarca reunindo em si a mais venerável hierarquia e a dinastia mais ilustre, suas pretensões e sua conduta se teria afigurado, à mentalidade oficial, tão incômodas quanto o foram as pretensões de César para Cássio. Dada, porém, sua condição de mera adventícia, havia apenas duas opiniões a seu respeito. Uma, que ela era milagrosa; outra, que era insuportável.”

Bernard Shaw – Santa Joana

de Grasse

I think the greatest of people in society carved niches that represented the unique expression of their combinations of talents, and if everyone had the luxury of expressing the unique combinations of talents in this world, our society would be transformed overnight. It’s the great tragedy — people employed in ways that don’t fully tap everything they do best in life. I am privileged and I don’t take a day for granted on the job about the fact that what I do, what people most warmly receive about what I do, are some of the things that I do best in life. I’m honored and flattered by that combination of facts as they apply to me. So, your task is to find the combination of facts that apply to you. Then people will beat a path to your door.

(Neil de Grasse Tyson)